Este Blog busca resgatar a história possível de casas, prédios e construções antigas espalhadas pelos mais diferentes lugares e destinos. Com o motivo da técnica da arquitetura antiga, buscamos encontrar as histórias que se escondem por detrás das paredes antigas que sustentam séculos de uma história oral e esquecida. Um canal de investigação e diversão.
segunda-feira, 29 de março de 2021
Casas antigas no Centro de Santa Maria
O Centro Histórico e a História Formativa da Cidade de São Vicente do Sul
Centro histórico do Município de São Vicente do Sul, no Estado do RS. O Município foi fundado oficialmente em 29 de abril de 1876, quando foi elevado à categoria de Vila, desmembrando-se do Município de São Gabriel, o que hoje corresponde ao processo de emancipação. O território do Município de São Vicente do Sul era, originalmente, habitado por índios guaranis. No ano de 1682, os padres jesuítas espanhóis criaram o primeiro povo de São Francisco de Borja, atual Cidade de São Borja. E logo em sequência foram criadas as missões de São Nicolau, São Luís, São Lourenço, Santo Ângelo, São João e São Miguel Arcanjo.
A redução ou povo de São João e São Miguel Arcanjo foi constituída no ano de 1687, e nela foi criada a Estância de São Vicente, cuja área de criação de gado se estendia por toda a região do Vale do Jaguari, local onde hoje está assentada a Cidade de São Vicente do Sul. Este território esteve sob controle dos padres jesuítas até a expulsão destes no ano de 1756, no evento histórico conhecido como as guerras guaraníticas. A partir desta data, o território de São Vicente do Sul esteve sob a influência das autoridades civis espanholas. Somente no ano de 1801, quando as forças de José Borges do Canto, Gabriel Ribeiro de Almeida e Manoel dos Santos Pedroso conquistaram toda a região das Missões Orientais, à partir do Município de São Martinho da Serra, é que os atuais territórios de São Vicente do Sul e de toda a região passaram ao domínio e influência de Portugual.
Os territórios conquistados passaram ao domínio de Portugal com a assinatura do tratado de Badajoz no ano de 1801, e nestes territórios estavam presentes as áreas da antiga estância jesuítica de São Vicente. Estas áreas passaram a ser doadas e divididas pela Coroa Portuguesa através da prática da concessão de sesmarias. A prática de concessão de sesmarias atendia aos interesses tanto da Coroa quanto dos particulares. Garantiam que os homens que recebessem as terras fronteiriças passassem a atender aos interesses de Portugal, passando a defender as fronteiras brasileiras de novas e possíveis invasões espanholas ao novo território conquistado.
Foi na época da distribuição das sesmarias que se formou o aldeamento dos índios na região de São Vicente do Sul. Concedida a sesmaria a José Borges do Canto, este se estabeleceu em terras situadas na margem direita do rio Toropi. Neste local instalou 20 casais de índios guaranis que eram remanescentes do povo de São Miguel Arcanjo, nas missões, e que deram origem à Vila de São Vicente Ferrer. O território do atual Município de São Vicente do Sul foi parte integrante dos seguintes municípios ao longo de sua história, respectivamente: Rio Pardo, São Borja, Cruz Alta, São Gabriel e finalmente São Vicente. Somente após o ano de 1969 é que passou a denominar-se São Vicente do Sul, de forma a diferenciá-lo da Cidade de São Vicente existente no Estado de São Paulo.
No ano de 1875, um requerimento foi encaminhado à Camara de São Gabriel por cidadãos de São Vicente, que pediam a formação de um novo município. Os vereadores comunicaram o presidente da Província, e apoiaram a causa. Assim, em abril de 1876, através da lei provincial 1032, São Vicente do Sul foi elevado à condição de Vila, e pela lei provincial nº 1364, de maio de 1882, passou a constituir um novo Município. O Município de São Vicente do Sul localiza-se na depressão central do Estado do RS, pertencendo à microrregião de Santa Maria, fazendo divisa com os seguintes Municípios: Jaguari; Cacequi; São Pedro do Sul; Mata; São Francisco de Assis e Alegrete.
Na cidade destacam-se como pontos de atração turística o coreto central da praça, construído para ser uma fonte de água potável no início do século XX, a Igreja Matriz de São Vicente Ferrer, o balneário do Passo do Umbú junto ao Rio Toropi, e as formações geodésicas naturais que circundam a sede da Cidade, como o Cerro do Loreto, o Cerro Seio de Moça e a Serra de São Miguel. A cidade é sede desde o ano de 2008 de um Campus do IFFAR - Instituto Federal Farroupilha, que absorveu as instalações de uma antiga escola agrícola federal fundada no ano de 1947. E realiza anualmente uma Feira Estadual de Comércio de Batata Doce, denominada de Fecobat.
Também como um dos mais importantes eventos culturais da região, a Cidade de São Vicente do Sul realiza anualmente o Baile de Kerbs Municipal, que é sediado nas instalações do Clube Vicentino. A festa acontece desde o ano de 1963, e a sua realização é mais antiga do que as festas de Oktoberfests das Cidades gaúchas de Santa Cruz do Sul e de Igrejinha. Conforme preconiza o Projeto de Lei Estadual nº 208/2017, os Bailes de Kerbs de São Vicente do Sul são reconhecidos como de relevante interesse cultural do Rio Grande do Sul, sendo eles considerados um dos maiores eventos culturais do Estado. Sua realização ocorre sempre no mês de outubro de cada ano.
Como curiosidade histórica, o nome original do Município era São Vicente, decorrente do antigo nome jesuítico da fazenda São Vicente e da devoção à imagem de São Vicente Ferrer, padroeiro da Cidade, cuja imagem trazida pelos padres jesuítas encontra-se ainda hoje no interior da Igreja Matriz. A partir do ano de 1944, o Município passou a denominar-se de General Vargas, nome este em homenagem ao pai do então Presidente da República Getúlio Dornelles Vargas. Somente após o ano de 1969 é que a Cidade retomou a sua designação anterior, acrescentando-se agora o sufixo "do sul", de forma a diferenciar-se da Cidade Homônima de São Vicente no Estado de São Paulo.
Fontes de pesquisa:
A IMPORTÂNCIA DO PAÇO MUNICIPAL. Amélia Simões SCHWERTNER1; Cristiane Schulz HAERTER ; Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI . Disponível em: http://www2.reitoria.uri.br/~vivencias/Numero_007/artigos/artigos_vivencias_07/Artigo_14.pdf
O VALE DO JAGUARI NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA FRONTEIRA OESTE DO RIO GRANDE DO SUL. Hermes Gilber Uberti ; Revista História Eletrônica em Reflexão. Disponível em: https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/historiaemreflexao/article/view/1876/1042
ABENÇOANDO NEÓFITOS, TECENDO REDES SÓCIO-FAMILIARES NA FREGUESIA DE SÃO VICENTE (VALE DO JAGUARI - RS, 1854-1912). HERMES GILBER UBERTI ; UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS. Disponível em: http://www.repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/5458
http://saovicentedosul.rs.gov.br/site/
https://biblioteca.ibge.gov.br/
sexta-feira, 26 de março de 2021
A Casa Antiga e os Cães de Guarda
domingo, 21 de março de 2021
A Reforma e a História da Antiga Estação Ferroviária de Restinga Seca
Prédio da antiga estação ferroviária da Cidade de Restinga Seca, Município localizado na Região Centro Ocidental do Estado do Rio Grande do Sul. O prédio foi recentemente reformado e nos dias da gravação deste vídeo (Janeiro de 2020) ainda não havia sido entregue à comunidade Restinguense. A estação férrea da Cidade de Restinga Seca foi inaugurada entre os anos de 1898/99. Antes, havia no local apenas uma caixa d 'água que era parada obrigatória para as antigas locomotivas a vapor utilizadas no ramal. Ao redor dessa parada de trens começou a desenvolver-se um núcleo urbano, que ficou conhecido como Caixa D´água. Este núcleo urbano foi o núcleo embrionário da atual sede do Município de Restinga Seca.
Como os trens apenas paravam para abastecer as caldeiras neste ponto, a comunidade local passou a reivindicar a criação de uma estação própria, visto que mercadorias e passageiros somente poderiam desembarcar nas estações de Arroio do Só, Estiva e Jacuí, estações já existentes neste trecho. Assim, moradores da localidade conhecida como Caixa D´água começaram a se organizar e reivindicar a construção de uma estação ao lado do reservatório de água, que ocorreu entre os anos de 1898/99, tendo sido denominada de Estação de Restinga Seca. O primeiro prédio da Estação de Restinga Seca foi um prédio de madeira, instalado para atender as reivindicações da população local, o que incentivou o desenvolvimento social e econômico da localidade. Somente no ano de 1927 é que foi construída a estrutura da estação atual.
A Estação pertenceu inicialmente à Estrada de Ferro Porto Alegre – Uruguaiana, trecho Cachoeira do Sul – Santa Maria, instalado a partir do ano de 1885 e que na época de sua construção era uma concessão cedida à Cie. Auxiliaire des Chemins de Fer au Brésil, que explorou a ferrovia de 1898 até o ano de 1920. No ano de 1920 a linha Porto Alegre - Uruguaiana foi transformada em Empresa Estatal Estadual, passando a ser administrada pela V.F.R.G.S. - Viação Férrea do Rio Grande do Sul. Mais tarde, no ano de 1957, a V.F.R.G.S. foi encampada pelo Governo Federal, passando a ser administrada pela RFFSA - Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima.
O prédio da antiga estação continuou servindo como estação de embarque e desembarque de cargas e passageiros até meados da década de 1990, quando ocorreu a extinção da RFFSA. O prédio então passou a ser utilizado como moradia de funcionários e depósito de óleo pela empresa que arrendou a exploração da ferrovia: a ALL, hoje Rumo Logística. No ano de 2017, o prédio foi cedido ao Município de Restinga Seca pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), através de termo de cessão de uso gratuito de bem imóvel. Desde então a antiga estação passou a ser restaurada pelo Município. A revitalização do espaço busca desenvolver ações em prol da conscientização e valorização da história de Restinga Sêca como um espaço de memória e identidade da formação do Município, que desenvolveu-se a partir do entorno da antiga estação, além de ofertar um atrativo turístico e de lazer para uso da comunidade.
Toda a reforma do prédio da antiga estação tem sido feita com verbas destinadas a ela através de consulta popular à população. A obra iniciou em 2018 com a troca do telhado, em 2019 com a revitalização da fachada e interior, e no ano de 2020 com a pintura interna e externa. O projeto da revitalização do espaço prevê a sua ocupação para a realização de atividades de cultura e turismo, e também ser a sede da Biblioteca Municipal de Restinga Seca e sediar as instalações da Secretaria de Cultura. Como curiosidade histórica da antiga estação da Cidade de Restinga Seca, ela foi residência do pintor e expressionista e filho da terra, Iberê Camargo, que nasceu e residiu na primeira estação ainda de madeira, entre os anos de 1914 a 1920, uma vez que seu pai era agente da estação e a sua mãe telegrafista. Iberê Camargo relatou assim, bem mais tarde, as suas impressões sobre a sua vivência na antiga e primitiva estação ferroviária da Cidade de Restinga Seca:
"Corre chata, fecha as janelas, o mundo vem abaixo: minha mãe, juntando a
ação às palavras. A velha estação de madeira treme e estala na boca da
noite cheia de vento. No céu escuro rola, desgarrada, uma telha de zinco,
leve como um pássaro. A caixa d'água, que dá de beber ao trem, tomba,
riscando o ar, com a mangueira, o rastro da queda."
"Na estrada, um lençol, uma lanterna, uma bicicleta transforma-se num
fantasma galhofeiro. É o amigão João Mostardeiro, que brinca de assustar.
Dona Adelina, a professora, o seu Antoninho Pötter, trazem-me doce-de-leite,
que saciará minha gulodice por longos anos. A ponte, o riacho, as flores
encarnadas, carnosas, patinhos, como as chamava, boiam ainda sobre as
águas, misturando com a luz e com a sombra. [...]
Em frente a plataforma, abrupto um barranco. No topo, uma casa com muitas
portas e janelas. É outro limite de meu mundo, da minha Restinga Seca.
Horácio Borges, Mostardeiro, Giuliani, Friedrich, nomes que soam familiar[...]
(CAMARGO, 1969, apud, JORNAL TRIBUNA DE RESTINGA, 2009, p.15)
Canal Arquitetura Abandonada
Fontes de Pesquisa:
PATRIMÔNIO E MEMÓRIA: UM OLHAR SOBRE AS PAISAGENS FERROVIÁRIAS DO MUNICÍPIO DE RESTINGA-SÊCA/RS - 1920 ATÉ OS DIAS ATUAIS. Alves, Heliana de Moraes. Disponível em: https://repositorio.ufsm.br/handle/1/9373
http://www.ufrgs.br/monitoramentopne/planos-municipais-de-educacao-rs/r/restinga-seca
ATLAS ELETRÔNICO E SOCIOECONÔMICO SOB A PERSPECTIVA DA CARTOGRAFIA ESCOLAR NO MUNICÍPIO DE RESTINGA SÊCA, RS. Cirolini, Angélica. Disponível em: https://repositorio.ufsm.br/handle/1/9278
http://www.estacoesferroviarias.com.br/rs_uruguaiana/restinga.htm
https://tribunaderestinga.com.br
https://www.facebook.com/groups/107181586086196/media