quinta-feira, 11 de março de 2021

Casas Antigas - O Abandono e a Historia do Antigo Curtume


Antigo curtume, localizado na Avenida Oswaldo Cruz, Bairro Dores, em Santa Maria RS. Construção de arquitetura tipicamente alemã, já apresenta sinais de desgaste do tempo em toda a sua estrutura principal, principalmente nos telhados que dão sinais de que começam a ruir. De fachada piramidal alta, com portas e janelas de ferro pintadas na cor lilás que lhe dão um toque de beleza singular, apresenta um sótão bem definido que era, por suas características, usado para armazenar mercadorias e matérias primas, e muito provavelmente onde as peças de couro, depois de curtidas e processadas, eram postas para a secagem final.

Nos fundos da propriedade está localizado o entroncamento das linhas férreas da Antiga Viação Férrea do RS, mais tarde Rede Ferroviária Federal. Alí se estabeleram as oficinas e todo o parque de manutenção férrea das concessionárias da rede. Antigamente era repleto de galpões e oficinas, pontos de carga e descarga de produtos e mercadorias diversas, transportadas pelos trens cargueiros. A localização do curtume era, por estas razões, estratégica, uma vez que usava a logística da ferrovia para o transporte de matéria prima e escoamento de sua produção que não fosse absorvida pelo comércio local. Também está localizada próximo à bacia do Rio Vacacai-Mirim, também aos fundos da propriedade, uma vez que a atividade requeria abundância de água, que era intensamente usada nos processos de curtição do couro.

Não conseguimos precisar a história deste curtume na linha do tempo. A história dá conta de que o imigrante alemão Peter Brenner, vindo do Município de São Leopoldo, estabeleceu-se na região com curtume e residência no ano de 1857, em extensa área junto ao rio Vacacaí-Mirim, hoje Bairro Quilômetro Três. Este prédio encontra-se construído no mesmo bairro, e tem as características das construções alemãs de sua época, sugerindo que possa ter sido construído por esta família. No Catálogo da Exposição Brasileiro-Alemã de 1881, Pedro Brenner, de Santa Maria é citado como expositor de artigos de couro, amostras de sola, pele curtida e couro curtido. No entanto, há o registro de outro curtidor de couros no mesmo bairro, Peter Falkenberg, contemporâneo dos Brenner e que desenvolveu atividades de curtume na mesma região e em períodos coincidentes.
O amigo Sebastião Saraiva Neto tem lembranças de que, quando garoto, acompanhava o seu pai em audiências trabalhistas onde o antigo curtume era acionado. Entrevistas com moradores da região dão conta de que o prédio encontra-se fechado há pelo menos 30 anos ou mais. E de que havia extensas construções ao fundo da propriedade, hoje inexistentes, onde se desenvolviam as atividades de curtição de couro. Nenhum dos entrevistados conseguiu recordar-se do nome do antigo curtume. Conforme relatos do amigo Sebastião Saraiva Neto, cujo pai desempenhava atividades junto à justiça do trabalho, ultimamente o prédio fora arrendado/alugado para terceiros, cujo sobrenome era Kraiesqui, Kraieski ou homônimo, e que utilizava o prédio na atividade de curtume, utilizando-se da logística da ferrovia para desenvolver as suas atividades. Isso a, pelo menos, 40 anos atrás.

O setor coureiro-calçadista é uma importante matriz da indústria gaúcha, e começou pela implantação dos primeiros curtumes no RS. O pioneiro deste processo foi o Barão de Santo Amaro, por ter instalado, em torno de 1820, uma fábrica de curtume, em sua fazenda localizada no atual município de Viamão. Apesar das dificuldades e desafios da indústria coureiro calçadista, inserida numa escala de economia mundial, o setor de um modo geral segue consolidado e forte, gerando renda e empregos onde se estabelece. Curtumes como este, no entanto, dada à sua desatualização tecnológica e processual, não possuem mais espaço na moderna economia mundial. Resgatar e preservar a sua historia é a nossa obrigação e contribuição para o que representaram e para com àqueles que os idealizaram.

Curtumes como este surgiram à partir desta definição, em razão da instalação das charqueadas e da abundância de matrizes de produção. Segundo palavras do historiador francês August de Saint Hilaire, que visitara a região à época: "em nenhuma outra região do Brasil seria tão acertada a instalação de um curtume, dada a abundância dos couros e facilidade de mercado"

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