Antigo curtume, localizado na Avenida Oswaldo Cruz, Bairro Dores, em Santa Maria RS. Construção de arquitetura tipicamente alemã, já apresenta sinais de desgaste do tempo em toda a sua estrutura principal, principalmente nos telhados que dão sinais de que começam a ruir. De fachada piramidal alta, com portas e janelas de ferro pintadas na cor lilás que lhe dão um toque de beleza singular, apresenta um sótão bem definido que era, por suas características, usado para armazenar mercadorias e matérias primas, e muito provavelmente onde as peças de couro, depois de curtidas e processadas, eram postas para a secagem final.
Nos fundos da propriedade está localizado o entroncamento das linhas férreas da Antiga Viação Férrea do RS, mais tarde Rede Ferroviária Federal. Alí se estabeleram as oficinas e todo o parque de manutenção férrea das concessionárias da rede. Antigamente era repleto de galpões e oficinas, pontos de carga e descarga de produtos e mercadorias diversas, transportadas pelos trens cargueiros. A localização do curtume era, por estas razões, estratégica, uma vez que usava a logística da ferrovia para o transporte de matéria prima e escoamento de sua produção que não fosse absorvida pelo comércio local. Também está localizada próximo à bacia do Rio Vacacai-Mirim, também aos fundos da propriedade, uma vez que a atividade requeria abundância de água, que era intensamente usada nos processos de curtição do couro.
Não conseguimos precisar a história deste curtume na linha do tempo. A história dá conta de que o imigrante alemão Peter Brenner, vindo do Município de São Leopoldo, estabeleceu-se na região com curtume e residência no ano de 1857, em extensa área junto ao rio Vacacaí-Mirim, hoje Bairro Quilômetro Três. Este prédio encontra-se construído no mesmo bairro, e tem as características das construções alemãs de sua época, sugerindo que possa ter sido construído por esta família. No Catálogo da Exposição Brasileiro-Alemã de 1881, Pedro Brenner, de Santa Maria é citado como expositor de artigos de couro, amostras de sola, pele curtida e couro curtido. No entanto, há o registro de outro curtidor de couros no mesmo bairro, Peter Falkenberg, contemporâneo dos Brenner e que desenvolveu atividades de curtume na mesma região e em períodos coincidentes.
O amigo Sebastião Saraiva Neto tem lembranças de que, quando garoto, acompanhava o seu pai em audiências trabalhistas onde o antigo curtume era acionado. Entrevistas com moradores da região dão conta de que o prédio encontra-se fechado há pelo menos 30 anos ou mais. E de que havia extensas construções ao fundo da propriedade, hoje inexistentes, onde se desenvolviam as atividades de curtição de couro. Nenhum dos entrevistados conseguiu recordar-se do nome do antigo curtume. Conforme relatos do amigo Sebastião Saraiva Neto, cujo pai desempenhava atividades junto à justiça do trabalho, ultimamente o prédio fora arrendado/alugado para terceiros, cujo sobrenome era Kraiesqui, Kraieski ou homônimo, e que utilizava o prédio na atividade de curtume, utilizando-se da logística da ferrovia para desenvolver as suas atividades. Isso a, pelo menos, 40 anos atrás.
O setor coureiro-calçadista é uma importante matriz da indústria gaúcha, e começou pela implantação dos primeiros curtumes no RS. O pioneiro deste processo foi o Barão de Santo Amaro, por ter instalado, em torno de 1820, uma fábrica de curtume, em sua fazenda localizada no atual município de Viamão. Apesar das dificuldades e desafios da indústria coureiro calçadista, inserida numa escala de economia mundial, o setor de um modo geral segue consolidado e forte, gerando renda e empregos onde se estabelece. Curtumes como este, no entanto, dada à sua desatualização tecnológica e processual, não possuem mais espaço na moderna economia mundial. Resgatar e preservar a sua historia é a nossa obrigação e contribuição para o que representaram e para com àqueles que os idealizaram.
Curtumes como este surgiram à partir desta definição, em razão da instalação das charqueadas e da abundância de matrizes de produção. Segundo palavras do historiador francês August de Saint Hilaire, que visitara a região à época: "em nenhuma outra região do Brasil seria tão acertada a instalação de um curtume, dada a abundância dos couros e facilidade de mercado"
Nenhum comentário:
Postar um comentário