domingo, 21 de março de 2021

A Reforma e a História da Antiga Estação Ferroviária de Restinga Seca


Prédio da antiga estação ferroviária da Cidade de Restinga Seca, Município localizado na Região Centro Ocidental do Estado do Rio Grande do Sul. O prédio foi recentemente reformado e nos dias da gravação deste vídeo (Janeiro de 2020) ainda não havia sido entregue à comunidade Restinguense. A estação férrea da Cidade de Restinga Seca foi inaugurada entre os anos de 1898/99. Antes, havia no local apenas uma caixa d 'água que era parada obrigatória para as antigas locomotivas a vapor utilizadas no ramal. Ao redor dessa parada de trens começou a desenvolver-se um núcleo urbano, que ficou conhecido como Caixa D´água. Este núcleo urbano foi o núcleo embrionário da atual sede do Município de Restinga Seca.


Como os trens apenas paravam para abastecer as caldeiras neste ponto, a comunidade local passou a reivindicar a criação de uma estação própria, visto que mercadorias e passageiros somente poderiam desembarcar nas estações de Arroio do Só, Estiva e Jacuí, estações já existentes neste trecho. Assim, moradores da localidade conhecida como Caixa D´água começaram a se organizar e reivindicar a construção de uma estação ao lado do reservatório de água, que ocorreu entre os anos de 1898/99, tendo sido denominada de Estação de Restinga Seca. O primeiro prédio da Estação de Restinga Seca foi um prédio de madeira, instalado para atender as reivindicações da população local, o que incentivou o desenvolvimento social e econômico da localidade. Somente no ano de 1927 é que foi construída a estrutura da estação atual.



A Estação pertenceu inicialmente à Estrada de Ferro Porto Alegre – Uruguaiana, trecho Cachoeira do Sul – Santa Maria, instalado a partir do ano de 1885 e que na época de sua construção era uma concessão cedida à Cie. Auxiliaire des Chemins de Fer au Brésil, que explorou a ferrovia de 1898 até o  ano de 1920. No ano de 1920 a linha Porto Alegre - Uruguaiana foi transformada em Empresa Estatal Estadual, passando a ser administrada pela V.F.R.G.S.  - Viação Férrea do Rio Grande do Sul. Mais tarde, no ano de 1957, a V.F.R.G.S. foi encampada pelo Governo Federal, passando a ser administrada pela RFFSA - Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima.


O prédio da antiga estação continuou servindo como estação de embarque e desembarque de cargas e passageiros até meados da década de 1990, quando ocorreu a extinção da RFFSA. O prédio então passou a ser utilizado como moradia de funcionários e depósito de óleo pela empresa que arrendou a exploração da ferrovia: a ALL, hoje Rumo Logística. No ano de 2017, o prédio foi cedido ao Município de Restinga Seca pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), através de termo de cessão de uso gratuito de bem imóvel. Desde então a antiga estação passou a ser restaurada pelo Município. A revitalização do espaço busca desenvolver ações em prol da conscientização e valorização da história de Restinga Sêca como um espaço de memória e identidade da formação do Município, que desenvolveu-se a partir do entorno da antiga estação, além de ofertar um atrativo turístico e de lazer para uso da comunidade.




Toda a reforma do prédio da antiga estação tem sido feita com verbas destinadas a ela através de consulta popular à população. A obra iniciou em 2018 com a troca do telhado, em 2019 com a revitalização da fachada e interior, e no ano de 2020 com a pintura interna e externa. O projeto da revitalização do espaço prevê a sua  ocupação para a realização de atividades de cultura e turismo, e também ser a sede da Biblioteca Municipal de Restinga Seca e sediar as instalações da Secretaria de Cultura. Como curiosidade histórica da antiga estação da Cidade de Restinga Seca, ela foi residência do pintor e expressionista e filho da terra, Iberê Camargo, que nasceu e residiu na primeira estação ainda de madeira, entre os anos de 1914 a 1920, uma vez que seu pai era agente da estação e a sua mãe telegrafista. Iberê Camargo relatou assim, bem mais tarde, as suas impressões sobre a sua vivência na antiga e primitiva estação ferroviária da Cidade de Restinga Seca:

 

"Corre chata, fecha as janelas, o mundo vem abaixo: minha mãe, juntando a

ação às palavras. A velha estação de madeira treme e estala na boca da

noite cheia de vento. No céu escuro rola, desgarrada, uma telha de zinco,

leve como um pássaro. A caixa d'água, que dá de beber ao trem, tomba,

riscando o ar, com a mangueira, o rastro da queda."


"Na estrada, um lençol, uma lanterna, uma bicicleta transforma-se num

fantasma galhofeiro. É o amigão João Mostardeiro, que brinca de assustar.

Dona Adelina, a professora, o seu Antoninho Pötter, trazem-me doce-de-leite,

que saciará minha gulodice por longos anos. A ponte, o riacho, as flores

encarnadas, carnosas, patinhos, como as chamava, boiam ainda sobre as

águas, misturando com a luz e com a sombra. [...]


Em frente a plataforma, abrupto um barranco. No topo, uma casa com muitas

portas e janelas. É outro limite de meu mundo, da minha Restinga Seca.

Horácio Borges, Mostardeiro, Giuliani, Friedrich, nomes que soam familiar[...]


(CAMARGO, 1969, apud, JORNAL TRIBUNA DE RESTINGA, 2009, p.15)


Canal Arquitetura Abandonada


Fontes de Pesquisa:


PATRIMÔNIO E MEMÓRIA: UM OLHAR SOBRE AS PAISAGENS FERROVIÁRIAS DO MUNICÍPIO DE RESTINGA-SÊCA/RS - 1920 ATÉ OS DIAS ATUAIS. Alves, Heliana de Moraes. Disponível em: https://repositorio.ufsm.br/handle/1/9373


http://www.ufrgs.br/monitoramentopne/planos-municipais-de-educacao-rs/r/restinga-seca


ATLAS ELETRÔNICO E SOCIOECONÔMICO SOB A PERSPECTIVA DA CARTOGRAFIA ESCOLAR NO MUNICÍPIO DE RESTINGA SÊCA, RS. Cirolini, Angélica. Disponível em: https://repositorio.ufsm.br/handle/1/9278


http://www.estacoesferroviarias.com.br/rs_uruguaiana/restinga.htm


https://tribunaderestinga.com.br


https://www.facebook.com/groups/107181586086196/media




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