Prédio da antiga estação ferroviária da Cidade de Restinga Seca, Município localizado na Região Centro Ocidental do Estado do Rio Grande do Sul. O prédio foi recentemente reformado e nos dias da gravação deste vídeo (Janeiro de 2020) ainda não havia sido entregue à comunidade Restinguense. A estação férrea da Cidade de Restinga Seca foi inaugurada entre os anos de 1898/99. Antes, havia no local apenas uma caixa d 'água que era parada obrigatória para as antigas locomotivas a vapor utilizadas no ramal. Ao redor dessa parada de trens começou a desenvolver-se um núcleo urbano, que ficou conhecido como Caixa D´água. Este núcleo urbano foi o núcleo embrionário da atual sede do Município de Restinga Seca.
Como os trens apenas paravam para abastecer as caldeiras neste ponto, a comunidade local passou a reivindicar a criação de uma estação própria, visto que mercadorias e passageiros somente poderiam desembarcar nas estações de Arroio do Só, Estiva e Jacuí, estações já existentes neste trecho. Assim, moradores da localidade conhecida como Caixa D´água começaram a se organizar e reivindicar a construção de uma estação ao lado do reservatório de água, que ocorreu entre os anos de 1898/99, tendo sido denominada de Estação de Restinga Seca. O primeiro prédio da Estação de Restinga Seca foi um prédio de madeira, instalado para atender as reivindicações da população local, o que incentivou o desenvolvimento social e econômico da localidade. Somente no ano de 1927 é que foi construída a estrutura da estação atual.
A Estação pertenceu inicialmente à Estrada de Ferro Porto Alegre – Uruguaiana, trecho Cachoeira do Sul – Santa Maria, instalado a partir do ano de 1885 e que na época de sua construção era uma concessão cedida à Cie. Auxiliaire des Chemins de Fer au Brésil, que explorou a ferrovia de 1898 até o ano de 1920. No ano de 1920 a linha Porto Alegre - Uruguaiana foi transformada em Empresa Estatal Estadual, passando a ser administrada pela V.F.R.G.S. - Viação Férrea do Rio Grande do Sul. Mais tarde, no ano de 1957, a V.F.R.G.S. foi encampada pelo Governo Federal, passando a ser administrada pela RFFSA - Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima.
O prédio da antiga estação continuou servindo como estação de embarque e desembarque de cargas e passageiros até meados da década de 1990, quando ocorreu a extinção da RFFSA. O prédio então passou a ser utilizado como moradia de funcionários e depósito de óleo pela empresa que arrendou a exploração da ferrovia: a ALL, hoje Rumo Logística. No ano de 2017, o prédio foi cedido ao Município de Restinga Seca pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), através de termo de cessão de uso gratuito de bem imóvel. Desde então a antiga estação passou a ser restaurada pelo Município. A revitalização do espaço busca desenvolver ações em prol da conscientização e valorização da história de Restinga Sêca como um espaço de memória e identidade da formação do Município, que desenvolveu-se a partir do entorno da antiga estação, além de ofertar um atrativo turístico e de lazer para uso da comunidade.
Toda a reforma do prédio da antiga estação tem sido feita com verbas destinadas a ela através de consulta popular à população. A obra iniciou em 2018 com a troca do telhado, em 2019 com a revitalização da fachada e interior, e no ano de 2020 com a pintura interna e externa. O projeto da revitalização do espaço prevê a sua ocupação para a realização de atividades de cultura e turismo, e também ser a sede da Biblioteca Municipal de Restinga Seca e sediar as instalações da Secretaria de Cultura. Como curiosidade histórica da antiga estação da Cidade de Restinga Seca, ela foi residência do pintor e expressionista e filho da terra, Iberê Camargo, que nasceu e residiu na primeira estação ainda de madeira, entre os anos de 1914 a 1920, uma vez que seu pai era agente da estação e a sua mãe telegrafista. Iberê Camargo relatou assim, bem mais tarde, as suas impressões sobre a sua vivência na antiga e primitiva estação ferroviária da Cidade de Restinga Seca:
"Corre chata, fecha as janelas, o mundo vem abaixo: minha mãe, juntando a
ação às palavras. A velha estação de madeira treme e estala na boca da
noite cheia de vento. No céu escuro rola, desgarrada, uma telha de zinco,
leve como um pássaro. A caixa d'água, que dá de beber ao trem, tomba,
riscando o ar, com a mangueira, o rastro da queda."
"Na estrada, um lençol, uma lanterna, uma bicicleta transforma-se num
fantasma galhofeiro. É o amigão João Mostardeiro, que brinca de assustar.
Dona Adelina, a professora, o seu Antoninho Pötter, trazem-me doce-de-leite,
que saciará minha gulodice por longos anos. A ponte, o riacho, as flores
encarnadas, carnosas, patinhos, como as chamava, boiam ainda sobre as
águas, misturando com a luz e com a sombra. [...]
Em frente a plataforma, abrupto um barranco. No topo, uma casa com muitas
portas e janelas. É outro limite de meu mundo, da minha Restinga Seca.
Horácio Borges, Mostardeiro, Giuliani, Friedrich, nomes que soam familiar[...]
(CAMARGO, 1969, apud, JORNAL TRIBUNA DE RESTINGA, 2009, p.15)
Canal Arquitetura Abandonada
Fontes de Pesquisa:
PATRIMÔNIO E MEMÓRIA: UM OLHAR SOBRE AS PAISAGENS FERROVIÁRIAS DO MUNICÍPIO DE RESTINGA-SÊCA/RS - 1920 ATÉ OS DIAS ATUAIS. Alves, Heliana de Moraes. Disponível em: https://repositorio.ufsm.br/handle/1/9373
http://www.ufrgs.br/monitoramentopne/planos-municipais-de-educacao-rs/r/restinga-seca
ATLAS ELETRÔNICO E SOCIOECONÔMICO SOB A PERSPECTIVA DA CARTOGRAFIA ESCOLAR NO MUNICÍPIO DE RESTINGA SÊCA, RS. Cirolini, Angélica. Disponível em: https://repositorio.ufsm.br/handle/1/9278
http://www.estacoesferroviarias.com.br/rs_uruguaiana/restinga.htm
https://tribunaderestinga.com.br
https://www.facebook.com/groups/107181586086196/media
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