segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

A Incrível História do Monumento ao Imigrante Italiano da Localidade de ...


Monumento ao Imigrante Italiano, reconstruído entre os anos de 1997/98 na localidade de São Marcos, pertencente ao Distrito de Arroio Grande, na Cidade de Santa Maria - Estado do Rio Grande do Sul. O Monumento ao Imigrante Italiano da localidade de São Marcos foi idealizado pela comunidade local em conjunto com a Associação Italiana de Santa Maria - AISM, e foi reconstruído seguindo as linhas gerais do antigo monumento que existiu no local até o ano de 1942.
O primeiro monumento que existiu no local foi erguido em homenagem aos soldados italianos mortos na guerra da Líbia, um conflito armado entre o Império Otomano e o Reino da Itália pela posse da Líbia, entre os anos de 1911 e 1912. As fotos deste monumento aparecem no final do vídeo. O antigo monumento foi idealizado pela Sociedade Italiana Duca Degli Abruzzi, que existia na comunidade desde o ano de 1896, liderada pelo morador Andrea Pozzobon, que também era um dos idealizadores da construção do monumento.
O Monumento original foi construído em 1913, e deveria ter sido erguido em frente à praça da Capela de São Marcos, porém não houve autorização da autoridade eclesial da época. Assim, o monumento foi construído em área pertencente a Andrea Pozzobon, do lado oposto onde hoje se encontra o novo monumento. Andrea Pozzobon e seus confrades da La Societá Italiana Pátria e Socorro Duca Degli Abruzzi eram imigrantes que traziam o sentimento de italianidade, defensores de um ideal libertário e renovador, fortemente influenciados pelos movimentos carbonários e garibaldinos que fizeram a Unificação da Itália.

Nesta época, a igreja era um centro aglutinador das Colônias que se desenvolviam à partir de sua centralidade. Havia, no entanto, uma divisão eclesiástica na região que influenciava na formação e na rivalidade entre as comunidades da região, dentre as quais São Marcos estava envolvida. Havia a Diocese da Cidade de Silveira Martins que cuidava de diversas comunidades locais, dentre as quais a Capela de São Marcos, cujos padres eram de formação mais liberal, e havia também a presença dos Padres Palotinos na região, estes defensores de uma igreja mais ultramontana e conservadora.
A igreja Romana não via com bons olhos e não incentivava os sentimentos de nacionalismo e italianidade nas colônias italianas no Brasil, uma vez que a unificação e a criação do Reino da Itália havia tomado as terras Papais na Europa. E a Congregação de Padres Palotinos instalada na região seguia a linha da Igreja Romana. Na época de construção do primeiro monumento, a Capela de São Marcos era subordinada ao Curato de Arroio Grande, que era comandado pelos Padres Palotinos, e estes contavam com o apoio da autoridade eclesiástica regional. Este foi o motivo que levou a não autorização da construção do antigo monumento em frente a Capela de São Marcos. O alinhamento com a autoridade e o pensamento papal.

O Monumento, no entanto, foi construído pela Sociedade Duca Degli Abruzzi, na área doada pelo imigrante Andrea Pozzobon em 1913, com a presença do consulado italiano, do intendente de Santa Maria, e representantes dos governos federal, estadual, do exército e do periódico da Loja Maçônica “Paz e Trabalho.” No ano de 1925 o antigo monumento recebeu uma nova lápide e também a colocação de um busto que representava Vittorio Emanuele III, Rei da Itália de 1900 a 1946, e também uma efígie do leão de São Marcos, que representa a Cidade italiana de Veneza e a região do Vêneto, de onde eram originários os imigrantes que se estabeleceram em São Marcos.
Com o advento da Segunda Guerra Mundial e a adesão da Itália aos países do Eixo, movimentos de intolerância contra imigrantes alemães, japoneses e italianos se deram em todo o país. E na comunidade de São Marcos, assim como em toda a região, não foi diferente. Em 1941 a Sociedade Duca Degli Abruzzi foi extinta e o Monumento aos soldados italianos mortos na Guerra da Líbia foi demolido em 1942, a mando do chefe de polícia local. Apenas no final dos anos de 1990 é que o mesmo foi reconstruído, agora em homenagem aos imigrantes italianos que construíram a comunidade de São Marcos na Cidade de Santa Maria.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

A História dos Primeiros Conjuntos Residenciais da Cidade de Santa Maria


Vídeo dos Conjuntos residenciais da Rua Barão do Triunfo, construídos no período dos anos de 1930 a 1950, entre as Ruas Silva Jardim, Andradas e Venâncio Aires, no Município de Santa Maria - RS. O primeiro conjunto está localizado entre as Ruas Silva Jardim e Andradas, e foi construído entre 1930/1935, e compõe-se de 08 casas com cobertura de telhas coloniais e acabamento externo com reboco texturizado.

Construído originalmente pela família Schimdt, o conjunto representa, junto com outros empreendimentos da época, ao tipo de construções populares que eram desenvolvidos na Cidade de Santa Maria até a metade do século XX. Os conjuntos residenciais correspondiam ao que hoje conhecemos por condomínios residenciais, e visavam a atender a demanda por moradias populares em razão do grande aumento populacional proporcionado pelo movimento ferroviário na Cidade.

A construção de conjuntos residenciais era uma tendência na Cidade desde a construção da Vila Belga, cuja construção se deu em 1906 pela concessionária da ferrovia e que era destinada à moradia de seus funcionários e ferroviários. Na década de 1940, na gestão do Prefeito Antônio Xavier da Rocha, foi criada lei que incentivava a criação de conjuntos residenciais, oferecendo desconto de impostos em edificações que fossem construídas em harmonia arquitetônica.

A chegada da Ferrovia no final do Século XIX motivou a implantação de empreendimentos imobiliários, que se consolidaram nas décadas seguintes. A Ferrovia representou importante surto de desenvolvimento urbano na Cidade. Dessa forma, diversos outros conjuntos como esses foram criados na cidade, como os que ainda existem nas Ruas Astrogildo de Azevedo, Tuiuti, Duque de Caxias e Dr. Bozano, entre outros espalhados pelo Município.

No meio da quadra, algumas casas desse conjunto residencial foram demolidas para dar espaço ao estacionamento e entrada lateral do Hospital Regional da Unimed, que atualmente funciona no local. O segundo conjunto está localizado entre as Ruas Andradas e Venâncio Aires, e foi construído entre 1940/1950. Originalmente era composto por 15 casas, geminadas e isoladas, e hoje encontra-se parcialmente descaracterizado. Sua arquitetura representa a influência do Movimento Art Déco, muito presente nas construções desse período na Cidade. Denominado de Edifício Bom-Fim, foi construído originalmente pela Família Furtado. Da mesma maneira, foram edificados para atender a forte demanda por moradias populares na Cidade em função da concentração das atividades da Companhia Viação Férrea do Rio Grande do Sul - VFGRS, mais tarde RFFSA.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

O Antigo Santuário de São Rafael e o Memorial Barbara Maix em Porto Alegre


Na atual Rua Riachuelo, no Centro Histórico de Porto Alegre, foi erguida no ano de 1877 a Capela de São Rafael. Junto ao Santuário localiza-se o Memorial Bárbara Maix, que reúne um precioso acervo histórico e religioso, integrando o Instituto Coração de Maria, pertencente à congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria. A Capela de São Rafael foi mandada construir por Dom Sebastião Laranjeira, segundo bispo do Estado do Rio Grande do Sul, no ano de 1877, em decorrência de uma promessa pessoal por ele ter se curado de uma grave enfermidade após a sua participação no Concílio Vaticano I, ocorrido na Europa. São Rafael corresponde ao nome de um arcanjo, evocado para todos os tipos de cura, do qual o bispo era devoto.

Quando a Capela de São Rafael ficou pronta, o Bispo Sebastião mandou construir em sua frente a gruta de Nossa Senhora de Lourdes, benzendo-a com a água que ele trouxe diretamente da fonte de Lourdes. Esta foi a primeira gruta construída na Cidade de Porto Alegre, a Gruta em homenagem à Nossa Senhora de Lourdes. O projeto da Capela foi executado pelo arquiteto João Grunewalt, e a pintura original pelo Irmão Jesuíta João Batista Kraus. Os quadros, que representam a Via Sacra de Jesus Cristo, vieram da Cidade de Viena, na Áustria, no ano de 1849. O Santuário abriga a urna com os restos mortais da Bem Aventurada Bárbara Maix.

Em 1866, Dom Sebastião doou às irmãs do Imaculado Coração de Maria a Capela de São Rafael. Doou também alfaias litúrgicas, um carrilhão composto de 10 sinos que se encontram na torre, e as imagens do Coração de Jesus e do Coração de Maria. A abóbada interna da Capela, com motivos bíblicos, foi concebida pelo pintor Emilio Sessa. Toda a construção da Capela segue a arquitetura da Escola Neoclássica. Em suas horas de meditação na Igreja de Nossa Senhora da Escada, na Áustria, Bárbara Maix percebeu a necessidade de se embrenhar na solução dos graves problemas sociais de seu tempo. Em 1843, Bárbara reuniu 17 jovens que eram guiadas sob a orientação espiritual e apoio do Padre Redentorista João Nepomuceno Pockl, já com a idéia de criar uma congregação religiosa dedicada ao Coração de Maria.

Bárbara Maix nasceu em Viena, Áustria, em 1818. Filha de Joseph Maix e Rosália Mauritz. Seu pai era camareiro do imperador Francisco Carlos, da Áustria, no palácio de Schonbrunn, mas a sua família vivia em uma situação econômica bastante precária. Tornou-se órfã de pai e mãe aos 15 anos, perdendo, inclusive, a sua casa. Devido à perseguição religiosa movida pela revolução de 1848, ela embarcou para o Brasil com mais 21 companheiras, chegando à Cidade do Rio de Janeiro depois de 57 dias de viagem. No dia 08 de Maio de 1849, fundou a Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria. Bárbara Maix faleceu no dia 17 de Março de 1873.

Bárbara Maix foi proclamada Bem Aventurada pelo Papa Bento XVI em Novembro de 2010. A beatificação foi celebrada em Porto Alegre, no Ginásio Gigantinho. O motivo deve-se ao milagre intercedido por ela no salvamento do menino Onorino Ecker, que sofreu gravíssimas queimaduras em 1944. Sua congregação existe há mais de um século e atua em oito países pelo mundo.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

A Casa dos Ministérios da Revolução Farroupilha do Rio Grande do Sul


Casa que pertenceu a José Pinheiro de Ulhoa Cintra, conhecida como a Casa dos Ministérios ou a Casa de Reuniões dos Farrapos, localizada no Centro Histórico da Cidade de Caçapava do Sul, no Estado do Rio Grande do Sul. Foi construída em algum momento entre os anos de 1800 a 1839. Neste ano já estava construída, pois foi sede de diversos ministérios da República Rio-Grandense ou República do Piratini, onde os comandantes da Revolução Farroupilha realizavam as suas reuniões e deliberações.

A construção representa com clareza a arquitetura Colonial Luso-Brasileira da primeira década do século XVIII. Foi construída na esquina sobre o alinhamento dos passeios públicos, em planta retangular. Possui cobertura em quatro águas, telha capa-e-canal, telhado galbado com beiral e cimalha, e aberturas com verga em arco abatido e cercadura. O acesso à construção se dá pela rua, através de grandes portas de madeira com escadas que chegam à calçada. Na fachada externa ainda aparecem elementos de decoração e o brasão supostamente da Família Cintra, gravado em alto relevo entre as janelas.

Nesta casa também funcionou a tipografia e as instalações do jornal O POVO, redigido pelo revolucionário italiano Luigi Rossetti com a colaboração de Domingos José de Almeida, e que era intitulado como o jornal político, literário e ministerial da República Rio Grandense. No dia 09 de janeiro de 1839, em plena realização da Revolução Farroupilha, os revolucionários farrapos transferiram a Capital da República Rio Grandense da Cidade de Piratini para a Cidade de Caçapava do Sul, em busca de maior segurança militar para o alto comando revolucionário.

Após o fim da Revolução farroupilha em 1845, a casa tornou-se residência do ex-ministro Ulhoa Cintra e sua família, que mais tarde exerceu os cargos de subdelegado de polícia, Juiz Municipal e 1º suplente de Juiz de Órfãos, em Caçapava do Sul, onde, também, elegeu-se vereador. Voltou a ocupar a cadeira de deputado provincial nas legislaturas de 1848/49 a 1854/55, e de 1863/66. Desta casa saíram importantes decisões das ações farroupilhas, como a ordem de invadir a Cidade de Laguna e onde Giuseppe Garibaldi decidiu pela construção dos lanchões com os quais os farrapos seguiram para SC através da Lagoa dos Patos, fundando neste estado a República Juliana.

Entre os anos de 1902 a 1908 a casa foi sede do Clube União Caçapavana, e na década de 1950, do Clube 14 de Júlio, também conhecido como o Clube dos Morenos. Na década de 1930 a casa teria sido reformada por Percival Antunes, que a adquiriu e restaurou, preservando os seus aspectos originais. Em 1970 teria abrigado a sede do Museu Lanceiros do Sul. Atualmente encontra-se à venda e parcialmente arruinada e comprometida. Entre os anos de 1902 a 1908 a casa foi sede do Clube União Caçapavana, e na década de 1950, do Clube 14 de Júlio, também conhecido como o Clube dos Morenos. Na década de 1930 a casa teria sido reformada por Percival Antunes, que a adquiriu e restaurou, preservando seus aspectos originais.

A Casa dos Ministérios foi tombada pelo IPHAE - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio Grande do Sul através da Portaria 5/94 de 24.02.94, em razão de sua relevância histórica em relação à Revolução Farroupilha, ocorrida no Estado entre os anos de 1835 a 1945. O tombamento, no entanto, não garantiu a sua plena preservação histórica e arquitetônica. O projeto envolve a compra do Imóvel dos atuais proprietários e a transformação do local em um espaço cultural. Detalhes do projeto e da fachada encontram-se no final deste vídeo, e também nos links da descrição. O projeto, no entanto, encontra dificuldades de execução físico-financeira e de interesse político, como qualquer outro projeto cultural desenvolvido no país. Desde o ano de 2018 existe um projeto de preservação e transformação do local, desenvolvido pelo Instituto Cavaleiros Farroupilhas da Cidade de Eldorado do Sul, em conjunto com a H&S arquitetos associados para a realização de uma intervenção cultural na Casa dos Ministérios de Caçapava do Sul.